sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

GUARDA MUNICIPAL E TAMBÉM COLUNISTA DO TUCANOBR.COM, OSVALDO JÚNIOR FALA A MÍDIA TELEVISIVA E A DESQUALIFICAÇÃO DA COMUNIDADE LGBT


Por: TucanoBR - Colunista OSVALDO JÚNIOR
Se não faz sentido, discorde comigo, não é nada demais [...]
Capital Inicial

Há tempos que não escrevo. Não por falta de tempo ou assuntos, mas por inexistência de vontade que me impulsione a este ato esplêndido, pois quem escreve prolonga sua vida na história. Porém, devo confessar que, ultimamente, veio-me um forte desejo de tecer algumas considerações, das quais muitos poderão discordar, sobre a forma anedótica e estereotipada com a qual os personagens homossexuais e transexuais são apresentados na mídia televisiva brasileira.
Há quem aplauda o simples fato de gays e transexuais estarem na TV. Afinal, as novelas e demais programas precisam falar da sociedade, “imitá-la” e, em tempos que as discussões sobre diversidade cultural e respeito às diferenças ganham efervescência, nada mais justo do que esses seres terem uma representação, o que é positivo. Não obstante, a forma como a apologia a essas vertentes da sexualidade humana é feita, ao invés de “dar bônus” à comunidade LGBT, desqualifica-a.
Não demorou muito tempo para que a frase “ai, como eu tô bandida” proferida por Rodrigo Sant’Anna, intérprete da transexual Valéria no programa da Rede Globo Zorra Total, fosse gravada na mente de milhões de brasileiros, que a repetem em diversas situações cotidianas. É hilariante ver Valéria aos sábados. Depois de uma jornada de trabalho árdua ou até mesmo de uma semana difícil; é bom sorrir, extravasar e isso, parece-me que para alguns autores de telenovelas e programas humorísticos, os gays e transexuais sabem fazer muito bem. A representação é tão estereotipada que aparenta, implicitamente e por que não dizer explicitamente? que gays e transexuais servem apenas para isso, num pensamento similar e errôneo ao de que “a representação desses indivíduos fará o povo rir; gay é sempre escandaloso, efeminado, com trejeitos grotescos e isso a população adora”. É tanto que não se conformam em ver na televisão e re-assistem aos vídeos pela internet. É raro visualizarmos na TV uma representação de um gay comportado, mais discreto. Esse tipo não parece porque não dá Ibope. 
Outro personagem que muitos brasileiros simpatizam é o Crô, da novela Fina Estampa, estreada em 22 de agosto de 2011. Sucedendo Insensato Coração, o enredo de Aguinaldo Silva faz muitos indivíduos rirem. Preferia acreditar que Marcelo Serrado, intérprete de Crodoaldo Valério, mordomo de Tereza Cristina, personagem de Cristiane Torloni, que é exaltada de maneira demasiada pelo empregado, fosse a representação de um grupo de minoria para mostrar que este mesmo grupo vem conquistando direitos na sociedade brasileira, mas não podemos vendar os olhos. Crodoaldo é um gay caricato, que, à guisa de Valéria, faz muitos por esse Brasil a fora rirem, como se fosse essa a única “função” do gay dentro das novelas.
Já não basta o Papa Bento XVI sair pregando veementemente pelo mundo que a homossexualidade ameaça o futuro da humanidade, temos a televisão, a mídia, os quais ajudam a desqualificar a comunidade LGBT, apresentando personagens caricatos, cuja função (ões) é fazer os telespectadores rirem, divertirem-se. Não quero dizer com isso que essas características desses personagens são engendradas pela Rede Globo. Existem gays de múltiplos tipos e distintos comportamentos, “gays de fina estampa”, engraçados, modestos, moderados. A televisão deveria mostrar todos, sem receios.
A TV necessita, em síntese, entender mais da identidade homossexual. A maneira como a mídia televisiva apresenta seres com identidade sexual diferenciada é caricatural. Não servimos apenas para fazer o povo rir. Gays, lésbicas, transexuais, dentro outros, possuem integridade, vidas e histórias fantásticas, pensamentos inovadores, criativos, mas parece que isso eles não querem de nós. Assim, fica ainda mais difícil conquistar uma “fina estampa” numa sociedade tão preconceituosa quanto a nossa. Ah! Não poderia me esquecer que, depois da nova novela das oito, o verbete pejorativo “biba” nunca foi tão pronunciado quanto outrora. Há um paradoxo interessante: Tereza Cristina é enaltecida, é associada à Cleópatra, à Filha de Osíris, à Sereia da Núbia por Crô, que, em recompensa, recebe o epíteto de “biba louca”.



COLUNISTA DO SITE TUCANOBR.COM
Osvaldo Alves de Jesus Júnior
25 de janeiro de 2012




 FONTE:  http://www.tucanobr.com/publicacao.asp?arquivo=1&id=393&tucano=A-MIDIA-TELEVISIVA-E-A-DESQUALIFICACAO-DA-COMUNIDADE-LGBT

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